Lideranças indígenas, entre professores e estudantes, foram recebidos, anteontem (25), no Ministério da Educação (MEC) pelo ministro Rossieli Silva, para reivindicar seu direito à educação diferenciada. A reunião ocorreu durante o Acampamento Terra Livre (ATL) 2018, que reuniu mais de 3 mil indígenas, no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília. A mobilização começou na segunda e terminou hoje (27/4).
Os indígenas denunciaram o corte e atraso nas bolsas para o ensino superior. De acordo com eles, mesmo com o acesso às universidades garantido por meio das políticas de cotas, a permanência de indígenas em cursos de graduação e pós-graduação não está assegurada por causa do problema.
Silva comprometeu-se a receber, em maio, uma comissão de lideranças para tratar do tema. “Realmente, nós vivemos em um período de cortes. Vou me debruçar, pessoalmente e especialmente, sobre a questão do bolsa permanência”, afirmou o ministro. Técnicos do ministério justificaram que os que atrasos na entrega das bolsas de permanência seriam decorrência da desatualização nos cadastros dos alunos.
O problema das bolsas é particularmente grave para os indígenas, tendo em vista os gastos com moradia, alimentação e transporte que precisam arcar nas cidades. É preciso permanecer anos longe de casa, com pouco ou nenhum auxílio, em meio a uma cultura diferente, até a conclusão dos cursos para, finalmente, voltar para suas comunidades de origem e conseguir trabalhar com seu povo.
“A universidade não está preparada de todas as formas para nos ensinar, até mesmo para nos receber. Não está preparada para entender as formas com que os indígenas pensam” diz Luana Kumaruara, do Pará. Estudante de antropologia na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). “Sem dinheiro, não tem como o indígena se manter na cidade”, conta. A UFOPA conta com mais de 400 alunos indígenas,
A reunião com o ministro foi convocada pelo GT de Educação do ATL e tratou ainda de pautas como autonomia na elaboração dos Projetos Político-Pedagógicos (PPPs) e falta de estrutura na educação básica nas aldeias.
“Na educação básica, o dinheiro muitas vezes chega nas cidades, mas é desviado pelas prefeituras”, explicou Tuira Kayapó.
Os indígenas exigem ter mais voz na elaboração dos PPPs, que muitas vezes já vem prontos do MEC. A participação das comunidades neste planejamento pode garantir, entre outras pautas, um calendário indígena diferenciado, reforçam os indígenas.
Construções de edificações escolares pela metade, dinheiro de merenda desviado, falta de energia elétrica e transporte precarizado também foram denunciados pelas lideranças. Elas lembraram ainda que as escolas não atendem as necessidades e peculiaridades de cada povo.
Edileuda Shanenawa, professora do ensino básico no Acre, alerta que o governo quer “colocar nosso conhecimento no nível ocidental”. A professora defende que é preciso aprender o português para entrar no mundo dos brancos, mas que ainda assim é preciso respeitar o direito dos povos indígenas à educação diferenciada, com materiais didáticos específicos. “Não queremos o livro que vem do MEC, queremos nosso próprio material”, completa a representante da Organização dos Professores Indígenas do Acre (Opiacre)
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