Obrigada pela visita

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quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Maria Lopes e Culturas


Maria Lopes e Culturas 
                                     Carta de Amor

                           Não mexe comigo. 

                                            
                   


Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só
Não mexe não!
Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só
Eu tenho Zumbi, Besouro, o chefe dos tupis
Sou Tupinambá, tenho os erês, caboclo boiadeiro
Mãos de cura, morubichabas, cocares
Zarabatanas, curares, flechas e altares
A velocidade da luz, o escuro da mata escura
O breu, o silêncio, a espera
Eu tenho Jesus, Maria e José
Todos os pajés em minha companhia
O menino Deus brinca e dorme nos meus sonhos
O poeta me contou
Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só
Não mexe não!
Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, eu não ando só
Não misturo, não me dobro
A rainha do mar anda de mãos dadas comigo
Me ensina o baile das ondas e canta, canta, canta pra mim
É do ouro de Oxum que é feita a armadura que cobre meu corpo
Garante meu sangue, minha garganta
O veneno do mal não acha passagem
E em meu coração, Maria acende sua luz e me aponta o caminho


Me sumo no vento, cavalgo no raio de Iansã
Giro o mundo, viro, reviro
Tô no recôncavo, tô em fez
Voo entre as estrelas, brinco de ser uma
Traço o cruzeiro do sul com a tocha da fogueira de João menino
Rezo com as três Marias, vou além
Me recolho no esplendor das nebulosas, descanso nos vales, montanhas
Durmo na forja de Ogum, mergulho no calor da lava dos vulcões
Corpo vivo de Xangô
Não ando no breu, nem ando na treva
Não ando no breu, nem ando na treva
É por onde eu vou que o santo me leva
É por onde eu vou que o santo me leva
Não ando no breu, nem ando na treva
Não ando no breu, nem ando na treva
É por onde eu vou que o santo me leva
É por onde eu vou que o santo me leva
Medo não me alcança
No deserto me acho, faço cobra morder o rabo, escorpião virar pirilampo
Meus pés recebem bálsamos, unguentos suaves das mãos de Maria
Irmã de Marta e Lázaro, no oásis de Bethânia
Pensou que eu ando só? Atente ao tempo!
Não começa, nem termina, é nunca, é sempre
É tempo de reparar na balança de nobre cobre que o rei equilibra
Fulmina o injusto, deixa nua a justiça
Eu não provo do teu fel, eu não piso no teu chão
E pra onde você for, não leva o meu nome não
E pra onde você for, não leva o meu nome não
Eu não provo do teu fel, eu não piso no teu chão
E pra onde você for, não leva o meu nome não
E pra onde você for, não leva o meu nome não
Onde vai, valente?
Você secou, seus olhos insones secaram
Não veem brotar a relva que cresce livre e verde longe da tua cegueira
Seus ouvidos se fecharam a qualquer música, a qualquer som
Nem o bem, nem o mal pensam em ti, ninguém te escolhe
Você pisa na terra, mas não a sente, apenas pisa
Apenas vaga sobre o planeta, e já nem ouve as teclas do teu piano
Você está tão mirrado que nem o diabo te ambiciona, não tem alma
Você é o oco, do oco, do oco, do sem fim do mundo
O que é teu já tá guardado
Não sou eu quem vou lhe dar
Não sou eu quem vou lhe dar
Não sou eu quem vou lhe dar
O que é teu já tá guardado
Não sou eu quem vou lhe dar
Não sou eu quem vou lhe dar
Não sou eu quem vou lhe dar
Eu posso engolir você, só pra cuspir depois
Minha fome é matéria que você não alcança
Desde o leite do peito de minha mãe
Até o sem fim dos versos, versos, versos
Que brotam do poeta em toda poesia
Sob a luz da lua que deita na palma da inspiração de Caymmi
Se choro, quando choro, e minha lágrima cai
É pra regar o capim que alimenta a vida
Chorando eu refaço as nascentes que você secou
Se desejo, o meu desejo faz subir marés de sal e sortilégio
Vivo de cara pra o vento na chuva, e quero me molhar
O terço de Fátima e o cordão de Gandhi cruzam o meu peito
Sou como a haste fina, que qualquer brisa verga, mas nenhuma espada corta
Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só
Não mexe não!
Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só

https://www.letras.mus.br/maria-bethania/carta-de-amor/

Somos Ciganos Somos Ciganos Somos Ciganos


Maria Lopes e Culturas 

Somos Ciganos  Somos Ciganos   Somos Ciganos

                      Somos Ciganos










Maria Lopes e Culturas 



                                                                        


                               Ela, Cigana.

Sou mulher do tempo, guiada pelo vento;
sou mulher do Sol e amante da Lua;
sou mulher da rua.

Sou mulher da luz e da escuridão,
minha casa é a imensidão.

Sou feiticeira antigamente perseguida,
mas ainda, por muitos, temida.

Sou andarilha sempre em busca,
guerreira sempre na luta.

Sou mulher de escolhas e de opinião,
vejo o destino na palma da mão.

Sou mulher de muitas diretrizes,
traçadas por minhas cicatrizes.

Sou mulher de corpo frágil,
mas de alma forte.

Sou a força de toda uma vida 
e prova da inexistência da morte.

Se um dia eu cruzar seu caminho agradeça, moço, 
poucos têm essa sorte.
Tania Bispo
                         https://www.pensador.com/cigana/

                                                               


UMA MULHER CIGANA

Nasce com as chamas do amor nas veias,
Nasce com um sorriso inigualável no olhar,
Renasce das chamas dia após dia.

Uma mulher cigana simplesmente chama atenção,
Algumas precisam de beleza, ou sensualidade...

Uma mulher cigana simplesmente se destaca.
Bruna Correia
                          https://www.pensador.com/cigana/

                 
                                         https://youtu.be/cKkYkpLMuQk


Cigana...
És uma linda flor, que desabrocha no amanhecer,
És um espírito de luz,
És lua que clareia nossas mente para que possamos dar um conselho na hora certa.
És o espírito que nos dá força para superar todos os nossos obstáculos,
És a estrela brilhante que ilumina nossas vidas nesse planeta Terra,
És um espírito maravilhoso que a noite vigia nossos sonhos,impedindo a aproximação de espíritos maléficos.
Cigana,com tuas fitas coloridas,estás sempre transmitindo a força do arco-íris sempre que o a aflito te invocar,possas transmitir –lhe a energia de paz,harmonia e da consolação.
Que, ao olhar a chama de uma vela,possamos sentir a tua presença,que ao tocar uma cristal,possamos sentir a tua energia positiva.
Que ao sentir o aromas das violes,Verbenas,Angélicas e Lís,possamos sentir que estás nos confortando.
Cigana,cobre-nos com tua saia colorida,
Escondendo-nos dos invejosos e mostrando a eles que o caminho não é esse.
Cigana encantada,que nesta hora possamos sentir segurança,paz e felicidade.
Com teu encanto,encanta coisas boas para que os nossos caminhos não tenham obstáculos.
Desencanta todas as perturbações que existam nos lares,Cigana,cura aqueles que estejam doentes do espírito,da alma,da matéria,com o poder do Pai –Sol,com o poder da Mãe-Terra.Nós te pedimos que sejam atendidos,por Santa Sara,a padroeira dos ciganos,e por todos os espíritos ciganos que viveram e sofreram nessa Terra,nessa corrente de fé. CIGANA....
Desconhecido                              

                   

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Maria Lopes e Cultura.

Que todos os amigos, visitantes e seguidores tenham uma 

                        Excelente Quarta - Feira. 

Não existe nada melhor do que um Dia atrás do Outro

Vamos que Vamos porque amanhã já é Quinta - Feira. 

                                 https://www.giulianaflores.com.br/fascinio-de-rosas-vermelhas/p13527/




                            

                 

sábado, 28 de abril de 2018

maria Lopes e Cuturas

INDÍGENAS DENUNCIAM CORTE DE BOLSAS E ABANDONO DA EDUCAÇÃO DIFERENCIADA EM REUNIÃO COM MINISTRO



Lideranças indígenas, entre professores e estudantes, foram recebidos, anteontem (25), no Ministério da Educação (MEC) pelo ministro Rossieli Silva, para reivindicar seu direito à educação diferenciada. A reunião ocorreu durante o Acampamento Terra Livre (ATL) 2018, que reuniu mais de 3 mil indígenas, no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília. A mobilização começou na segunda e terminou hoje (27/4).
Os indígenas denunciaram o corte e atraso nas bolsas para o ensino superior. De acordo com eles, mesmo com o acesso às universidades garantido por meio das políticas de cotas, a permanência de indígenas em cursos de graduação e pós-graduação não está assegurada por causa do problema.   
Silva comprometeu-se a receber, em maio, uma comissão de lideranças para tratar do tema. “Realmente, nós vivemos em um período de cortes. Vou me debruçar, pessoalmente e especialmente, sobre a questão do bolsa permanência”, afirmou o ministro. Técnicos do ministério justificaram que os que atrasos na entrega das bolsas de permanência seriam decorrência da desatualização nos cadastros dos alunos.
O problema das bolsas é particularmente grave para os indígenas, tendo em vista os gastos com moradia, alimentação e transporte que precisam arcar nas cidades.  É preciso permanecer anos longe de casa, com pouco ou nenhum auxílio, em meio a uma cultura diferente, até a conclusão dos cursos para, finalmente, voltar para suas comunidades de origem e conseguir trabalhar com seu povo.         
“A universidade não está preparada de todas as formas para nos ensinar, até mesmo para nos receber. Não está preparada para entender as formas com que os indígenas pensam” diz Luana Kumaruara, do Pará. Estudante de antropologia na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). “Sem dinheiro, não tem como o indígena se manter na cidade”, conta. A UFOPA conta com mais de 400 alunos indígenas,
A reunião com o ministro foi convocada pelo GT de Educação do ATL e tratou ainda de pautas como autonomia na elaboração dos Projetos Político-Pedagógicos (PPPs) e falta de estrutura na educação básica nas aldeias.
“Na educação básica, o dinheiro muitas vezes chega nas cidades, mas é desviado pelas prefeituras”, explicou Tuira Kayapó.
Os indígenas exigem ter mais voz na elaboração dos PPPs, que muitas vezes já vem prontos do MEC. A participação das comunidades neste planejamento pode garantir, entre outras pautas, um calendário indígena diferenciado, reforçam os indígenas. 
Construções de edificações escolares pela metade, dinheiro de merenda desviado, falta de energia elétrica e transporte precarizado também foram denunciados pelas lideranças. Elas lembraram ainda que as escolas não atendem as necessidades e peculiaridades de cada povo.
Edileuda Shanenawa, professora do ensino básico no Acre, alerta que o governo quer “colocar nosso conhecimento no nível ocidental”. A professora defende que é preciso aprender o português para entrar no mundo dos brancos, mas que ainda assim é preciso respeitar o direito dos povos indígenas à educação diferenciada, com materiais didáticos específicos. “Não queremos o livro que vem do MEC, queremos nosso próprio material”, completa a representante da Organização dos Professores Indígenas do Acre (Opiacre)

segunda-feira, 26 de março de 2018

A higiene das mãos diminui o risco de infecções e evita e disseminação de bactérias, vírus e fungos.


A higiene das mãos diminui o risco de infecções e evita e disseminação de bactérias, vírus e fungos.


http://www.accamargo.org.br/saude-prevencao/artigos/por-que-a-higiene-das-maos-e-importante/29/

Uma das maneiras mais fáceis e eficazes de prevenir qualquer tipo de infecção é lavar as mãos de forma adequada. A higiene das mãos diminui o risco de infecções e evita e disseminação de bactérias, vírus e fungos.


Como fazer a higiene das mãos?


É muito simples. Use água e sabão líquido ou produtos que dispensam o uso de água, como o álcool gel. É importante a fricção de toda a superfície das mãos e punhos para remover toda a sujeira e os microrganismos que a gente não vê, mas estão lá.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

A saga por um BO na proteção da mulher.

  • A saga de se registrar um Boletim de Ocorrência quando se trata de violência contra a mulher.

  • A saga por um BO: os obstáculos encontrados por mulheres nas delegacias

  • Inaugurada em 1985, a 1ª DDM (Delegacia de Defesa da Mulher), no centro de São Paulo, foi a primeira especializada em crimes contra a mulher do Brasil
Eram por volta das 10h30 da manhã de uma quinta-feira quando a funcionária pública Jussara Gomes Brasil, 41, chegou à 1ª DDM (Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher), na Sé, centro de São Paulo. Acompanhada pelos dois filhos, um de 12 e outro de 7 anos, ela saiu cedo de Mairinque, interior de São Paulo (a 75 km de São Paulo), na esperança de conseguir registrar um BO (boletim de ocorrência) contra o ex-marido.
Jussara contou que se separou em 2010, após sete anos de casamento, alguns deles marcados por episódios de agressão. "Eu apanhava por causa de um café ruim. Quase morri de tanto apanhar, mas consegui me separar. Temos a guarda compartilhada dos filhos, mas ele maltrata os dois."
Naquele ano, no Dia das Mães, ela resolveu levar os meninos para a casa dela, em Mairinque, e desde então tem sofrido ameaças. "Ele diz 'devolve ou você vai se arrepender', naquele tom, sabe? E eu sei do que ele é capaz, por isso vim aqui fazer um BO para conseguir uma medida protetiva de urgência", diz a servidora pública.
A Lei Maria da Penha, de 2006, garante à mulher o acesso à medida protetiva, que estabelece limite mínimo de distância entre vítima e agressor, assim como a suspensão da posse ou restrição do porte de armas, caso o homem possua licença para usar armas. Para que ela seja solicitada, é preciso que a mulher tenha feito um BO.
A 1ª DDM não foi a primeira delegacia que Jussara procurou. "Mairinque não tem delegacia da mulher, então fui a uma delegacia comum. O escrivão de lá é da igreja onde meu ex-marido é pastor. Sempre que vou lá ele me diz algo para não registrar o BO. Diz para eu resolver o problema 'dentro de casa'. Fui na delegacia da mulher de São Roque (cidade vizinha) e me disseram que não poderia fazer a queixa, já que o fato ocorreu em Mairinque. Aqui [na Sé] foi a mesma coisa: tenho de registrar na minha cidade."
UOL entrou em contato com a delegacia de Mairinque e foi informado que existe um cartório dentro do local que cuida apenas de casos de violência contra a mulher. Depois da publicação desta reportagem, um dos escrivães contou que Jussara conseguiu registrar o BO e já prestou o primeiro depoimento sobre a sua denúncia.
O movimento de mulheres lutou muito para que existissem delegacias especializadas no atendimento a mulheres vítimas de violência em todo o país. A primeira delas foi inaugurada em 1985, em São Paulo -- justamente a 1ª DDM, visitada por Jussara.
"Ele pressionou o Executivo com a intenção de que esse fosse um atendimento mais humano, voltado para a especificidade da violência contra a mulher. Mas essas delegacias não estão fora da sociedade, acabam reproduzindo valores que reforçam os papéis de gênero. E, por isso, é muito comum que essa mulher sofra quando chegue a uma delegacia", afirma a advogada Marina Ganzarolli, fundadora da DeFEMde (Rede Feminista de Juristas)

Quantidade X qualidade

São Paulo é o Estado do país que possui a maior rede de órgãos especializados em atendimento à mulher vítima de violência. Segundo a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo), existem 132 delegacias especializadas na defesa da mulher, mas a orientação é para que todos os distritos policiais atendam as mulheres.
No entanto, relatos sobre dificuldades de registrar boletins de ocorrência e de mau atendimento por parte de agentes ainda são comuns. A jornalista Camila Caringe, 29, contou que recebeu o conselho de "tentar resolver o problema dentro de casa" de uma escrivã em uma DDM na cidade de São Paulo em julho de 2014, depois de ter sofrido ameaçadas do então marido. "A abordagem da escrivã me fez sentir culpada na primeira vez [que tentou denunciar]. Saí de lá pensando que eu que era a louca, que precisava fazer as pazes com ele."
Camila voltou meses depois na mesma delegacia, após ter tido a mão quebrada. Mesmo separada, ainda sofria ameaças de morte por parte do ex-cônjuge. "Eu tive sorte. Poderia não ter conseguindo voltar na segunda vez."
Na nova tentativa, ela conseguiu fazer o BO. "Aconteceu em um domingo, mas só consegui ir na delegacia na terça-feira. A atendente me disse: 'E você só vem agora? Não deve estar realmente preocupada'. Aquilo me deixou muito irritada e exigi falar com a delegada diretamente. Só assim consegui registrar o BO." 
A orientação da SSP-SP às mulheres que se sentirem mal atendidas por qualquer oficial dentro das delegacias, sejam elas especializadas ou não, é fazer uma queixa à Corregedoria da Polícia Civil.
Esse não é um problema que se resolve com conversa, porque não é um problema exclusivo da vítima. Tem a vizinha dela que sofre o mesmo problema, outra mulher na família, no trabalho, é um problema estrutural. Há milhares de mulheres na mesma situação.
Marina Ganzarolli, fundadora da DeFEMde (Rede Feminista de Juristas)

"Não existe o policial da DDM, existe o policial"

Todo policial civil está apto a realizar qualquer tipo de atendimento. O posicionamento é da SSP-SP, que informa que todo o policial civil que está na Academia de Polícia estuda disciplinas como direitos humanos, polícia comunitária, atendimento ao público, direito e criminalística, "que o tornam apto para realizar um atendimento direcionado à mulher vítima de violência".
No entanto, segundo a pesquisadora Beatriz Accioly Lins, do Numas (Núcleo de Estudos dos Marcadores Sociais da Diferença) da USP (Universidade de São Paulo), não há um treinamento específico direcionado ao profissional que vai atuar em DDMs.
Ela passou dois anos estudando o funcionamento de delegacias especializadas na defesa da mulher e a aplicação da Lei Maria da Penha. "Não existe o policial da DDM, existe o policial. Ele pode estar ali na DDM e receber uma notificação para trabalhar em outro distrito policial. Há uma instabilidade no atendimento que atinge, principalmente, o escrivão e o investigador que está ali na ponta", afirma.
Na quinta-feira em que Jussara foi atendida na 1ª DDM, um dos funcionários do local, que pediu para não ser identificado, afirmou que estava locado ali, mas que, na verdade, seu posto de origem era no 2º DP. "Falta gente para trabalhar e não abrem concurso", reclamou.
Essa rotatividade, aliada à ausência de um treinamento mais direcionado, acaba tirando do posto um policial que acabou aprendendo no dia a dia a dinâmica do atendimento à mulher, segundo especialistas.
As DDMs sofrem com a precarização que acontece na polícia de âmbito geral, sobretudo de cargos mais baixos, que são as pessoas que atendem essas mulheres. Falta pessoal, eles estão sobrecarregados, faltam materiais.
Beatriz Accioly Lins, pesquisadora

Dificuldades desencorajam vítimas

O horário de funcionamento é outro problema. As DDMs funcionam apenas de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. "Nos primeiros anos, as DDMs funcionavam 24 horas. Há o argumento de que a violência acontece no fim de semana, à noite, e essa mulher, que é vítima, precisa ir a uma delegacia comum, onde, em tese, deveria receber o mesmo atendimento. Mas, se as DDMs têm dificuldades, imagina a delegacia comum", afirma Beatriz Lins.
Naquela manhã de quinta-feira, quando Jussara foi atendida, havia apenas uma mulher trabalhando na 1ª DDM: a delegada. A SSP-SP foi questionada sobre a quantidade de homens e mulheres que trabalham nessas especializadas, mas oUOL não obteve resposta da pasta.
"É preciso que haja mais mulheres nessas instituições, não só na delegacia, mas nos órgãos do Judiciário. As mulheres reproduzem essa cultura machista, mas ter uma mulher já faz uma diferença", afirma a advogada Marina Ganzarolli, uma das fundadoras da DeFEMde (Rede Feminista de Juristas).
Segundo ela, as dificuldades não se restringem apenas à delegacia. "Uma juíza me contou que, durante uma audiência sobre um caso de violência contra uma prostituta, o advogado de defesa virou e falou para a testemunha da vítima: 'A senhora sabe a profissão da vítima?'."
Essa cultura da culpabilização não está apenas na delegacia, mas em todas as estruturas do Judiciário
Para a especialista, esse tipo de comportamento desencoraja a mulher a denunciar e judicializar o processo. "Ela pensa que não vai dar em nada se denunciar, que vai ser a palavra dela contra a dele, vai reviver a violência, vai ser exposta, culpabilizada", afirma Marina.
De acordo com dados da Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180, no ano passado foram registradas 76.651 denúncias, o que representa um caso de violência contra mulher a cada sete minutos no Brasil, em 2015. As ocorrências específicas de violência sexual somaram 3.478 relatos. No país, foram 9,5 estupros por dia. "Mas as dificuldades enfrentadas por essas mulheres com certeza geram subnotificação nos casos de violência", acredita.

"O policial não é um alienígena"

Beatriz Accioly Lins afirma que foram poucos os casos que acompanhou em que houve problemas para realização do BO nas delegacias pesquisadas. Mas afirma que essa cultura de achar que a violência contra a mulher é um assunto a ser revolvido "dentro de casa" tem mudado dentro da polícia, principalmente por causa da Lei Maria da Penha.
"Ela (a lei) mudou muito o trabalho dos policiais, porque agora existe uma legislação clara que diz exatamente o que é crime, que não é uma questão de briga de marido e mulher. Vejo que tem mudado, mas que é um longo caminho a ser percorrido, como na sociedade, afinal o policial não é um alienígena", afirma.
Marina Ganzarolli acrescenta que a delegacia "não está apartada da sociedade", mas dentro dela, reproduzindo seus valores. "Homens e mulheres são ensinados desde pequenos que possuem papéis diferentes. Essa desigualdade se expressa na esfera salarial, ausência de mulheres em cargos de liderança, na política. A violência contra a mulher é a expressão máxima dessa desigualdade.
"http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2016/06/09/problema-nao-e-numero-de-delegacias-mas-atendimento-prestado-a-mulher.htm