Explicando melhor o alerta de Sobrinho Simões, o investigador diz que metade dos portugueses que nascerem daqui a dez ou 15 anos – por volta de 2025 a 2030 – e que em meados deste século chegarão à idade adulta vão desenvolver cancro. “Metade das pessoas que nascerem daqui a dez anos vai ter pelo menos um cancro. O cancro vai aumentar”, esclarece ainda.
“Já hoje estamos a ter mais gente que desenvolve o segundo e o terceiro cancro. A ideia de que as pessoas que tiveram um cancro safaram-se é errada”, refere ainda. “Quem teve um cancro que se curou ou que está controlado tem mais risco do que a população em geral. É uma questão de susceptibilidade genética, de estilo de vida e de condições ambientais.”
Procurando não criar alarmismos, Sobrinho Simões diz que não devemos ficar “assustados”, porque as taxas de cura e de controlo dos cancros têm aumentado. E também está confiante de que “não vai faltar dinheiro para a investigação nesta área”. “A indústria farmacêutica sabe também que isto é uma área extraordinária do ponto de vista económico, porque, se metade da população tem cancro e se os tratamentos não são baratos, isso é um estímulo para eles. Portanto, acredito que vai haver dinheiro. Estou com medo, mas acredito”, acrescentou Sobrinho Simões, citado pela agência de notícias Lusa. “Mas vamos evoluir de forma inexorável para ter mais cancro e doença neuropsiquiátricas, as doenças da velhice.”
A Associação Portuguesa de Investigação em Cancro que acaba de nascer “pretende ocupar um espaço que estranhamente continua vazio em Portugal, o da coordenação da investigação multidisciplinar em cancro (Portugal é dos raros países europeus sem qualquer estrutura deste tipo) ”, lê-se no comunicado de imprensa sobre o lançamento da associação, que pretende desempenhar um papel central na articulação, tanto nacional como internacional, das actividades de investigação do cancro, agregando quem trabalha nesta área. Também pretende contribuir para a divulgação da investigação feita em Portugal.
No entanto, apesar de ser “a coisa mais importante que aconteceu em Portugal nos últimos anos em termos de investigação em cancro”, Sobrinho Simões receia que a nova associação “não funcione”: “Nós, em Portugal, somos muito bons a fazer os eventos e depois não somos tão bons a manter e a sustentar. É um dia muito feliz, mas é uma responsabilidade horrorosa”, admitiu o investigador, um dos responsáveis pela criação da nova associação. “O nosso objectivo é que Portugal passe a ser um nó nas redes de investigação e tratamento, mas para isso é preciso que os dois mundos, que costumam estar separados, o da investigação fundamental e o da clínica, passem a trabalhar em conjunto.”
Para Sobrinho Simões, “a saúde tem condições excepcionais para reter em Portugal os investigadores”, por considerar que “no domínio da investigação em saúde e em cancro há condições tão boas para oferecer aos investigadores como qualquer país europeu da nossa dimensão”.
A nova associação vai funcionar a partir do próximo ano, com a criação de um site, a realização de reuniões regulares e levantamentos nacionais sobre o que existe: “E, depois, com a apresentação de propostas para começar a funcionar de maneira mais integrada com a Europa e entre nós”, referiu Leonor David, investigadora do Ipatimup, que preside a comissão instaladora da associação.http://www.publico.pt
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